domingo, 17 de outubro de 2010

As despedidas tornam-se leves na feliz possibilidade do reencontro - Canto para minha morte

Gosto, amor e afeição: qual a possibilidade de discussão? Existem quantos infinitos modos do gostar? Quantas pessoas são malucas por algo a ponto de colecionar variações do mesmo tema ou constantemente trocar isso ou aquilo por um modelo mais potente ou mais recente, loucura pelas roupas do momento, adereços da estação, automóvel do ano e da marca sensação?
Cultivamos um costume bobo de gerar grande afeição por 'entidades' das mais diversas, por alimentos, latinhas, garrafas, livros, cd's, chapéus, tampinhas, selos, cartazes, chaveiros, animaizinhos, bebidas, pinturas, fotografias, quadrinhos, tem sempre aquela coisa pela qual nos empenhamos em aumentar nosso poder aquisitivo. 

E você junta seus trocados para que fim?

Vejo paixão e apreço por tudo que é troço no mundo, desde os quatorze anos tenho pensado muito a esse respeito, entre uma relação e outra, na convivência familiar, durante mudanças com mil coisas a empacotar, esse tema da afeição sempre me volta à mente, à vida.

Qual a distância entre o apreço e o apego?

Desde há tempos tenho conduzido minhas atitudes para o desapegar cauteloso, o desapego que liberta, sem abandonar e o apreço que cuida, sem sufocarNesta reta final da terceira década vivida respiro leve, liberta de muitos fios antes invisíveis e desatada de nós incontáveis, durante os últimos 4 ou 5 anos passei efetivamente a liberar espaços nos escombros acessados pela trilha do autoconhecer - lugar de reconhecer, aceitar e transcender.
Alguns saem dos trilhos da emoção e da razão por perder um objeto qualquer desses que são de estimação, ataques de histeria, raiva, estupidez, desgosto, tristeza, insensatez, ocorrem a todo momento, por um carro riscado, por um copo quebrado, por um troco perdido, um treco quebrado...quanto desgaste por miudezas às quais nos apegamos com a profundidade de nossas almas, eu mesma já o fiz um dia...para quê?
Transformar tais atitudes, que inicialmente nos parecem incontroláveis, pode ser mais fácil do que se imagina, basta de início, um bom tanto de vontade e outro de paciência, tudo é questão de negociação e de tempo. 
Digo a mim: gerencie seus desejos, organize seus pertences, reavalie as necessidades em relação às suas metas...pare tudo o que estiver fazendo e trace suas metas se ainda não as tem...se não souber aonde quer chegar, retornará eternamente ao mesmo lugar...reavalie todas elas de tempos em tempos, irá se surpreender com as realizações, que quando ocorrem, nem se dá conta de que outrora estava a desejar aquilo ardentemente...cuidado com os seus desejos, eles se realizam.
Dia 17 de setembro de 2010, aniversariei uma grande despedida, debutei a falta de um ser no qual me refleti sem nem mesmo saber, nessa comemoração, apenas silenciei por dentro alguns instantes e continuei desenhando o dia, completei as provas e práticas da revalidação do certificado como instrutora do Método DeRose, em Curitiba, curti os amigos queridos que vejo apenas de tempos em tempos e adiei a reflexão.
Hoje, 17 de outubro, um sussurrar acariciou meu coração...num domingo alegre, aventureiro, familiar, descontraído, passeado, colorido, ensolarado e nublado, quente e gelado, reflexivo, encantador, vibrante, perfumado, apaixonado...um domingo de intensas sensações, todas elas me levando a voar... a voltar a pensar sobre asas e flores...

Se por desventura, em seus braços um ente querido abandonar o corpo e repousar eternamente o coração, os objetos já não terão tanto valor, as coleções já não não farão o mesmo sentido, o essencial, tornar-se-a visível na ligeireza desse triste-vazio instante

...antes da morte do papai acontecer eu já era fã dessa música (abaixo) do Raulzito, compreendi depois a razão de ter sempre vontade de despedidas felizes, ainda que nem sempre conseguisse...hoje há quinze anos de conversas com as estrelas, porque foi lá que papai me disse que moraria, passei a ter gosto pelas pessoas e por nossas relações, desejo sempre estar presente quando assim estou, se oferecer um carinho, um beijo, um abraço, quero fazê-lo de corpo inteiro, fazer-me inteira presente no instante, estando...comigo, consigo... estando onde a intenção desejar estar...com vagar, a contemplar...


"Eu sei que determinada rua que eu já passei, não tornará a ouvir o som dos meus passos. Tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir. Cada vez que eu me despeço de uma pessoa, pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez. A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar." 

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