segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A menina que tinha sete vidas

Era uma vez uma menina que tinha 7 vidas.
Algumas vidas ela gastou sem saber, parece até que gastaram por ela, mas não, ela escolheu morrer.

Dizem que cada tristeza capaz de apagar a luz que vive no fundo dos nossos olhos, leva uma vida embora. Ninguém sabe se é verdade, mas a menina acredita.

Hoje a menina tem 4 vidas e você deve querer saber como ela acendeu a luz dos olhos pra ter direito a reviver.

Porque as vidas são assim, existem, mas só inflamam se você acender a chama e atuar em seu foco de luz e sua sombra também. 

As três vidas da menina se foram assim:

Uma vida foi com o pai.
Acendeu a próxima com o amor da família.

Outra vida foi com a necessidade de amadurecer.
Acendeu a próxima com a vontade de viver.

A terceira vida foi muito, muito triste, foi com a escolha da morte para continuar a viver, matou por dentro o que a fazia sofrer.
Está acendendo a quarta com a alegria e o riso que ela reaprendeu a fazer florescer.

A menina das 7 vidas agora voltou a construir graça, afrouxar sorriso e disparar gargalhadas, a menina faz queimar bruxas do passado, explodindo seu lado escrachado, a menina quieta tem dentro dela uma louca, louca pela vida, tão louca que faz enlouquecer quem por perto estiver, faz dançar, bater palmas, ficam boquiabertos os mais desconfiados, a menina palhaça das 7 vidas, deixa todo homem enamorado.

Era uma vez uma menina que todos os dias reaprendia a viver, reaprendia a amar, reaprendia a voar, que todos os dias nascia de novo e fazia sete vezes sete vidas existirem, todos os dias, muitas vidas vivia, num dia só.


domingo, 8 de setembro de 2013

Conto sem nome ou Pedaço de realidade ou Nua pelo meu país ou A Leoa dos Leões ou Vênus e a Lua

Vênus veio namorar a Lua, um sorriso e uma piscadela, pureza e vivacidade, como a pouco, quando nos vimos pela primeira vez. 

Eu, você e o acaso, no instante fantástico de tudo o que nunca até então acontecera. 
Eu presa, você livre, nós completamente desconhecidos, talvez, inteiros. 

Desejei, piegas, que o tempo parasse para que eu pudesse te saber com o olhar; desejei, cafona, que o mundo desaparecesse e enquanto você sorriu ao meu lado, só existiram nuvens dançadas, balanços despidos, vastos horizontes, bicicletas brandindo sinetas, flores insinuantes, Vênus e a Lua. Dividida, acalentei meu desejo, desejando em verdade, atear-lhe fogo e flamejar em si.

Agora era fatal, nos encontramos e fiquei assim...

Você, sem me avisar, 
apareceu tão nu diante de mim,
agora eu era louca pra te amar 
e o tempo era um moroso passarim.

Reaprendendo a voar, revivi por segundos minha antiga liberdade no brilho do seu falar, contos adoravelmente vivos, como os que volto a cantar.

Você tão Vênus, eu tão Lua,
Você plantando cores, construindo ninhos,
Eu plantando vento, cultivando redemoinhos,
Você tão pleno, eu tão crua.

Eu insosa, repetindo dias sem sabor,
colada em verdades findas,
pela metade,
vestindo saudade.

Você sagaz (ou alheio?), todo fervor,
temperando os meus sentidos,
exalando verdade,
vivendo de amor.

O tempo feito brinquedo, assoprava um segredo, coroava meu sonho, instigando o imaginar, enquanto dormia, pra quando acordar. 

Desperto dos meses em que estive à bordo de um navio fantasma, com escombros sombrios, três grandes incômodos vazios, os pés frios, o olhar morno, acorrentada a dois espelhos e seus reflexos infinitos, monstros, apontando meus pesadelos. Ancorada na tristeza de dores não imaginárias, supliquei por terras acolhedoras, não existiam, pisei no falso, divaguei descalça, cai no oco com as asas quebradas, mas enquanto mergulhava no desconhecido, pude voltar as vistas para o mundo e percebi lá fora pedaços da minha felicidade, flutuando com peixes tão estranhos quanto ela mesma me parecia. 

Acordei sereia, aportei, enxuguei o mar que escorria no rosto, guardei mais um punhado de saudades no bolso, voltei a Ser, una com meu querer e meu acreditar.

Agora eu era luz e você o cavalheiro que veio honrar meu renascer, sim, me dê a mão, vem me ver reflorescer, eu e sua nobre simplicidade faremos a-manhã-ser.

'Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim', pra cá deste jardim é de festejo que não tem mais fim e eu louca a perguntar se o mundo é sempre sábio, enfim... 

Eu enfrentava os batalhões, sabendo o que é que a vida vai fazer de mim, a gente agora já não tinha medo, nada mais era segredo, Eu vencia assombrações, era a leoa dos leões, agora eu era além, estava linda e com ares de atriz, andava nua pelo seu país.

Antes que Vênus venha namorar a Lua outra vez, teremos enamorado nossos lábios, nossa pele, nosso suor, saltaremos encantados do maior precipício que existe, batendo asas juntos, pela primeira vez e pela primeira vez teremos aventuras infinitas como peixes e como pássaros, como felinos, como meninos...serão todas maravilhosas, enquanto maravilhosas forem, pois 'pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.'


Ana Rocha
8.9.2013