domingo, 17 de outubro de 2010

Domingo eu quero ver o dia inteiro passando com vagar, navegando no mar das boas lembranças

Amanhece dominicalmente, a gente espreguiça, da bobeira, o cachorro rouba o travesseiro, expulsa a dona pro chuveiro, alguém se encoraja e arreganha as cortinas, o sol vem raiar com seu jeito de sorrir e dizer bom dia quando o convidam a entrar.
Já mais atentas depois de esticar alguns minutos no colchão, reparamos que dormimos de relógio em punho, risos, tentamos durante a madrugada, segurar os ponteiros dos minutos, fazer o tempo dormir, atrasar a hora do adiantado horário de verão que saltou da meia noite para uma, tentamos e ao tentar estivemos atentas a cada segundo, os poucos dias que passamos juntas constroem assim, uma vida inteira, um carinho inteiro, uma presença inteira mesmo quando distantes.

Quando Rafaella tinha uns quatro aninhos, alguém resolveu esclarecer à pequena, não sei por qual estúpida razão, que eu era sua meia irmã, assim como os outros irmãos, a pequena com olhos chorosos resmungou: mentira, não quero só metade da minha Nina...e derramou-se em lágrimas desejando a irmã inteira, a que brinca, pula, briga, compartilha, entende, aconselha , a que sendo adulto sabe se fazer criança, a sua irmã sem ser meia, sua Nina inteira irmã.
Nada mais acalentava o disparado desespero do coração partido da criança, o sentimento de perda  que latejava nas palavras infantis inconformadas, misturadas à chuva que escorria pelo rosto.
Numa cidade distante, atendo ao telefone, ouço um som de choramingar, colocam a pequena na linha, pra Nina tentar acalmar, aos  soluços tristonhos me derrama seu pavor, e questiona  com esperança aflita: 

 - Nina, você pode ser minha irmã inteira? Eu não queria que fosse metade...                        

E tudo ainda é festa durante o café matinal dominical, tudo é latente, tudo é memória, a presença é inteira no estado consistente de quem está contente.

















Hoje, antes do café matinal. Rafica, Nina e Mel (em todo lugar, a saltitar).

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