As borboletas sempre trazendo boas novas...
Fui viver o dia, viagem, trabalho, telefonemas, documentos, e-mails, cartório, contrato, planejamentos, resoluções...viagem...calor, muito calor, gente, muita gente, barulho, trânsito...enfim, lar, doce...chuva, vento, temporal, vendaval, água minando janelas adentro, panos, toalhas, movimento...raios e escuridão, lição de casa da irmã, jantar da mamãe e da prima, conversas, alegrias, lembranças, um pouco mais de trabalho, internet, passagem, pagamento, planejamento...finda a chuvarada, volta o clarão...
Enfim, parte dois...lar, doce, lar...volto do dia vivido, ávida por bom descanso, eis, que para suave espanto, ainda alí estava ela, a borboleta-pavão, estaticamente pousada, pausada, como a deixei pela manhã...
Voou meu pensamento à quietude do alvorecer, à solitude do silêncio do sol na estrada, a nascer, ao lento despertar em companhia de um sorriso largo e assonado, encrustado de bem querer...
Antes de sair para viver o dia, registrei a exibição singela da borboleta-pavão, que veio morar comigo há uns dias, dois ou três, prostrou-se sobre a cama, abriu com desdém um pouco das asas, fez pose e recolheu-se...Assim a encontrei no fim do mesmo dia, recolhida em sua existência, maripousa, borboleta-pavão...
Fiz menção de espanta-la de meu leito, ela fez gracejos, fingiu que voaria, reexibiu suas cores, agora, sem vergonha alguma, aquietou-se, toda de asas abertas, como por provocação, voou para perto, olhou-me, recolheu novamente as asas-penugens...aquietou...asas eretas, mente clara e coração tranquilo...
Aquietei também o tumultuoso dia que passou, senti o cheiro da cidade molhada, ouvi o vento refrescante chamando o sono pra junto de mim...hora do banho morno, da roupa leve, do lençol macio, do travesseiro fofo, da sutil saudade espalhar-se pela cama, metade vazia...dos bons sonhos...com futuras, breves, realizações...