segunda-feira, 10 de maio de 2010

[...] Tudo começa assim [...] porque nada de fato começa...e assim termina...por estar a ser e não saber-se o fim... [...]

Prefácio:                              ...não gosto muito de falar eu te amo.

...não gosto muito de falar eu te amo, em geral não se entende a dimensão disso, o amor vai além das palavras. Tem uma história sobre amor que eu evito contar, mas ontem foi um dia especial que me fez querer dizer o amor que tive e quase deixei morrer.

A olhos nus uma triste história, eis que, ao preferir contar felizisses, poucas vezes a revelei , mas é chegado o momento de atentar ao que essa tristestória me trouxe de felicidade. Algo maior que o entendimento do que é viver, do que é amar e do que é morrer, vou logo contar o fim que voltando na história será como andar adiante, a alegria que ficou de herança vem dos tempos em que fomos filha e pai, pai e filha.

Capitulo 1:                         [...] histórias se tecem também de silêncio.

Todos silenciosamente apreensivos, um corredor brando e branco de encadeiradas fileiras, pessoas sem rosto e sem nome aos montes, ao fim do passar, uma mascara empunhada por obrigatoriedade amarrou qualquer sorriso meu de brotar. Era ordem que para atravessar a entrada densa de um quarto hospitalar, não se poderia querer respirar fundo, ou sorrir ou gritar alto para todo mundo ouvir. Dentro do quarto quadrado, se alguém me abraçou, não senti; se quiseram reconfortar, não ouvi; meu olhar fixava no leito o desajeitado modo magro, jogado, quebradiço, acanhado, dopado, um respirar ruidoso assombrava o porvir.

Capítulo 2:                            Papai. Sussurro grave, rumores brandos.

...só queria um sorriso, pensei. Nada, eu queria ele de volta...uma voz baixa veio crescendo e eclodiu em sussurro grave, mântrico...

- Pai, fica. Pai, não vai embora agora não. Eu te amo, pai... – ele me disse e escreveu e expressou tantas vezes esse eu te amo, sorrindo com olhos brilhantes de euforia do menino paizão que sempre foi, apaixonado, fazia não importar-se por eu só devolver um sorriso, um abraço ou um suspiro – eu me importava agora. - Pai...fique aqui...

– aqui, ele abriu os olhos e um espanto espalhou brisa e arrepio pelo instante que se deu.

Insisti, continuei: - eu te amo, pai. Sei que eu nunca te disse assim, mas eu te amo – renascia agora aquele brilho dos olhos serenos que ele tinha e também um esforço de sorriso percebido pelo rumor do arfar...o esforço de viver... de permanecer, de me olhar uma vez mais e dizer “eu te amo” tão forte como quando em sonoras palavras, eu te amo vivo como poucos existem, eu te amo sem nada pretender, só mesmo o amar...


Capítulo 3:                            Quando um palhaço morre, os anjos chovem.

As mãos que se desfaziam em fragilidade tomaram força, eu percebia seu coração pulsar através delas - Eu Te Amo...tantas incontáveis vezes disse, neste mais pequeno espaço apreciável de tempo... qual a constância daquelas horas, quão consistente-efêmero esforço para ofertar um sorrir, quanta intensidade às mãos tentando agarrar a brevidade.

Sorriu, traduzindo minhas palavras ao olhar-me fixo nos olhos, papai deitou seus cabelos finos sobre minhas mãos, respirou serenamente e de súbito parou o coração...antes que o frio tomasse seu corpo, corri, corri desatinadamente voltando ao branco bravo infinito corredor, impulsionada por um não querer acreditar, corri uma eternidade, arrancando a mascara que me amarrava o sorriso, tentando libertá-lo...

Quando as paredes alvas sumiram e eu pude ver o sol, choveu sobre mim uma chuva fina e leve, ouvia ruidosos trovões distantes, um vento frio assoprava folhas das árvores de plumas branquinhas...logo alguém apareceu, eu só quis gritar, mas silenciei. Aquele silêncio compartilhado com a natureza lírica que se fazia presente ... Ali, ao lado, o amoroso primo irmão, o mais maduro da escadinha de nossa geração, me abraçou forte, me protegeu da chuva e silenciou comigo naquela dor.

Houve mais pulsar neste passar iminente, que em todo longo tempo presente dos viventes triviais. É morte ecoando vida, a ela estamos fadados, influenciados pelos fados...os namorados das fadas...e assim se constroem os contos mais mágicos, os reais.

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