domingo, 8 de setembro de 2013

Conto sem nome ou Pedaço de realidade ou Nua pelo meu país ou A Leoa dos Leões ou Vênus e a Lua

Vênus veio namorar a Lua, um sorriso e uma piscadela, pureza e vivacidade, como a pouco, quando nos vimos pela primeira vez. 

Eu, você e o acaso, no instante fantástico de tudo o que nunca até então acontecera. 
Eu presa, você livre, nós completamente desconhecidos, talvez, inteiros. 

Desejei, piegas, que o tempo parasse para que eu pudesse te saber com o olhar; desejei, cafona, que o mundo desaparecesse e enquanto você sorriu ao meu lado, só existiram nuvens dançadas, balanços despidos, vastos horizontes, bicicletas brandindo sinetas, flores insinuantes, Vênus e a Lua. Dividida, acalentei meu desejo, desejando em verdade, atear-lhe fogo e flamejar em si.

Agora era fatal, nos encontramos e fiquei assim...

Você, sem me avisar, 
apareceu tão nu diante de mim,
agora eu era louca pra te amar 
e o tempo era um moroso passarim.

Reaprendendo a voar, revivi por segundos minha antiga liberdade no brilho do seu falar, contos adoravelmente vivos, como os que volto a cantar.

Você tão Vênus, eu tão Lua,
Você plantando cores, construindo ninhos,
Eu plantando vento, cultivando redemoinhos,
Você tão pleno, eu tão crua.

Eu insosa, repetindo dias sem sabor,
colada em verdades findas,
pela metade,
vestindo saudade.

Você sagaz (ou alheio?), todo fervor,
temperando os meus sentidos,
exalando verdade,
vivendo de amor.

O tempo feito brinquedo, assoprava um segredo, coroava meu sonho, instigando o imaginar, enquanto dormia, pra quando acordar. 

Desperto dos meses em que estive à bordo de um navio fantasma, com escombros sombrios, três grandes incômodos vazios, os pés frios, o olhar morno, acorrentada a dois espelhos e seus reflexos infinitos, monstros, apontando meus pesadelos. Ancorada na tristeza de dores não imaginárias, supliquei por terras acolhedoras, não existiam, pisei no falso, divaguei descalça, cai no oco com as asas quebradas, mas enquanto mergulhava no desconhecido, pude voltar as vistas para o mundo e percebi lá fora pedaços da minha felicidade, flutuando com peixes tão estranhos quanto ela mesma me parecia. 

Acordei sereia, aportei, enxuguei o mar que escorria no rosto, guardei mais um punhado de saudades no bolso, voltei a Ser, una com meu querer e meu acreditar.

Agora eu era luz e você o cavalheiro que veio honrar meu renascer, sim, me dê a mão, vem me ver reflorescer, eu e sua nobre simplicidade faremos a-manhã-ser.

'Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim', pra cá deste jardim é de festejo que não tem mais fim e eu louca a perguntar se o mundo é sempre sábio, enfim... 

Eu enfrentava os batalhões, sabendo o que é que a vida vai fazer de mim, a gente agora já não tinha medo, nada mais era segredo, Eu vencia assombrações, era a leoa dos leões, agora eu era além, estava linda e com ares de atriz, andava nua pelo seu país.

Antes que Vênus venha namorar a Lua outra vez, teremos enamorado nossos lábios, nossa pele, nosso suor, saltaremos encantados do maior precipício que existe, batendo asas juntos, pela primeira vez e pela primeira vez teremos aventuras infinitas como peixes e como pássaros, como felinos, como meninos...serão todas maravilhosas, enquanto maravilhosas forem, pois 'pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.'


Ana Rocha
8.9.2013



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