quarta-feira, 16 de abril de 2014

Aborto

Muitas coisas no mundo me surpreendem a ponto de me calar até por dentro, nem sempre são aconchegantes, desvendar-se muitas vezes dói. 

As questões que matam meu vazio são tão letais e tão restauradoras do que há de mais vívido em mim, assim, na travessia que ultrapassa meu silêncio, encontro quem quero ser, encontro-me e gosto do que fui e do que sou, pouco a pouco volto a preencher de luz essa sombra que por hora me vela, serenamente, contemplando cada reação, transformando dor em fonte de inspiração...essa luz por hora me revela.

 ...muitas vezes atuei assim, jorrando em expressão, as lágrimas que habitam em mim...


Desperto desejos de criar observando as dores do meu vazio, silenciar em arte-poesia de palavras jamais ditas.

Silencio todos os dias, de manhã e à noite, com precisão e sem desculpas e, no intervalo entre o sol e a lua, contemplações me levam a silenciar de formas inexatas, nas notas de Bach, nas sombras que invadem meu teto, no uivar do vento, em nuvens, em qualquer objeto, entre uma linha e outra, nos travessões. 

Bendito este silêncio que me recorda antigos sofrimentos, durante os quais me fiz cobaia da atriz - que por hora adormece em sono leve - me conheci de novas formas, me resgatei de um choro abismal, resplandeci teatral, pelos olhos, fogo, o fulgor fundamental.

O silêncio abortou os sons, abortou o caos, abortou mágoas e desilusões, o meu silêncio agora está grávido de sagradas possibilidades.





Escrito após a leitura do artigo de Janete El Haouli e José Augusto Manis sobre o silêncio...preciosidade iluminadora.


Ana Rocha - 29/08/2013

    USINA DE ARTE. Rio Branco - AC. Jan/2014

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