quarta-feira, 5 de maio de 2010

Lembrar constante

Me lembro desde os cinco anos, acordar cedinho aos domingos e assitir de cabo a rabo, com olhos espichados, os filmes de Carlitos exibidos na TV, estar atenta até aos comentários vindos depois da exibição, assim, confortavelmente largada ao colo de papai, que ria também, feito criança que éramos.

Me lembro de mamãe trazer viníl, bolachão, que de pequena eu ainda não via existir o tal de CD, esse veio tempos depois e demorou a estar em casa. Adorava procurar na faixa com agulha em punho a música preferida, adorava deixar no quarto, sobre a estante, o disco preferido, aos oito anos e por tempos ainda hoje chegados, ouvindo infinitas vezes o disco do violeiro Almir, o Sater, conhecido do vô, que nem tempo deu de me levar pra conhecê-lo também, o vô se foi pro céu bem cedo, como o papai. Eles vão se indo e deixando lembrança bonita de quando precisava dar a mão pra atravessar a rua. Daí que a mamãe ficou sem pai, e logo depois eu, e a vó ficou sem filho, que tristeza, maior não deve ter, imagino.

Lembro bem na casa da vó, vó Aninhas, ainda aqui, resistente rapariga, a mulher mais lutadora da família toda, quando o papai foi, um pedacinho dela queria teimar ir junto, deixei não, que ele mesmo me disse, vindo em sonho, que ela tinha muito que fazer aqui, muito que ficar comigo e contar histórias de verdade lá da terra das naus, histórias musicadas, de enrrascadas, e dormir vez ou outra no meio delas. Vó, vóó, acorda, ainda não terminou...você parou naquela parte em que...queria poder sempre abraçar a vó.

Esse lembrar constante que me enriquece os dias das felicidades que vieram se acumulando de um abraço apertado, um bilhete deixado, colinho quente, sorriso largo e firme expressão quando era de dizer não. A mãe, o vô, o papai, a vó, de todos eles carrego um pouco no que sou. 

Ah, esse lembrar constante... quanto suspirar numa epopeia familiar.


A vó Aninhas...

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