Dois em um ou Voz secreta ou Dentre-entre linhas ou Cá entre nós ou Desnecessidade ou Borboleta azul ou Sinceridade sentimental ou Vem viver.
O “inconveniente” é um temperamento especial do indivíduo, relacionado à influência que nele exerce o (ser) que lhe é alheio. Tais vontades inadequadas pintam nele, o indivíduo, um conjunto de cores diversas bem combinadas, que em sua sensibilidade resplandece - cada uma das gradações de uma cor que não se vê, a beleza de um colorido invisível aos olhos e palpável aos corações – simultaneamente, no dele e no de um ser que não lhe é alheio.
Assim, na construção de um jogo discreto, repleto de palavras e afeto (nada que se veja por aí, e, tão pouco que aconteça às escuras), os brincantes desbotam os moldes, as vulgaridades repetitivas dos lugares-comuns, arremessam sentidos sem medo, atravessam de cá para lá numa aventura literal, transcrevem, descrevem, sempre no espaço da emoção*, repouso absoluto das metáforas do bem-querer, ponte levadiça do ser, ora a ofertar outra a recolher.
Faz-se, pois, daquilo que não convém, se dar no limiar racional, no intervalar das aventuras textuais, quando então, sobrevêm o alheio com suas molaridades corrosivas do deleite, do agrado, da boa vontade, do tal divertido aprazer cultivado em segredo lírico-desvelado. A ponte daqui é pênsil, bamba, arredia – observa e desfantasia.
As pessoas, Camarada, só revelam aquilo que se vê nos postais, registram matrizes e reproduzem. Plantam milho e colhem palha. Desapercebem o prazer de colher também um tanto de flores, um perfume suave, um olhar instigante, um repouso na tarde, um afago à vontade. Desperdiçam provisões de sentimentos agradáveis que alguma coisa (ou alguém) faz nascer em nós.
Jamais metamorfoseiam, amarram os pés e fingem correr. Sorriso estampado, olhar rabiscado, gesto mofado, o emoldurado ser. Vai com ele, ou vem viver?
*perturbação moral – relativa ao ser alheio e suas objeções.
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