Personagens:
Mãe
Menina
Amigo invisível
Época: século XX, ano 1989.
Lugar: Topo de uma árvore de feijõezinhos não comestíveis. Diante da casa alta, no Alto do Mandaqui, São Paulo.
(Mãe sobre o peitoral da janela, Menina sobre a árvore da calçada)
- Pra casa, Menina, que o vento está gelado!
- Ah, mãe, só mais um pouquinho...
-(suspiro) Venha que já se vai o sol, está tarde.
- Mas mãe, ainda tem claridade...
- Está dito, se não vier, vou eu até aí e aiaiai!
...
Até que venha a mamãe, o tempo vai ao longe,
dura a brincadeira e o sol nunca se põe, vira lua sendo ainda sol.
...
- Nina! (esbraveja a mamãe querida)
- Já vou mãe...
- Agora, venha!
- Já estou indo, mãe...já...já...
...
Entre uma palavra e outra, um estar e outro, um vão de tempo largo em que a Menina via um mundo que só veêm os amigos invisíveis.
...
Entre um vão cotidiano e o lapso de realidade talhado na voz da mãe quando esbravejava, a Menina olhava um mundo só seu.
...
Telhados vermelho-terra
Terra vermelho-fogo
Fogo amarelo-sol
Folhas secas
outras quase
Vento do Sací
vozes de além-mar
Sol alaranjado no céu de algodão cinza,
cinzazulado apinhado de pontos de luzes de estrelas...
O céu quando tem estrelas é que não vai chover...isso dizia a mãe da mamãe da menina...que voltava a divagar esquecendo o vento, a noite, o sono, o ser...até o som do esbravejo vindo da janela, estremecer os sonhos e fazê-la escorregar tronco abaixo, empurrar o portão gasto-rabugento e adentrar a casa enquanto sumia de vista o amigo que só ela via...era hora de sonhar...dormindo...boa noite menina...
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...não via a mãe da pequena nina... que a vida já lhe era pura poesia... e que ventos gelados, noites de dormir, amanhãs têm escola, banhos, jantares e dentes a escovar: matam poesia.. Que bom que você via o que eu não poderia ver - invisíveis amigos, anjos queridos que fizeram você crescer! (TI AMUUU)
ResponderExcluirTe amo, mamushka, com todos os seus cuidados, pude ordenar a poesia, pra que durasse até depois do tempo de ter crescido...
ResponderExcluirSua sempre pequena Nina.