quinta-feira, 1 de julho de 2010

Terminantemente proibido para menores


Um sob o outro, sobre o outro, colado, encarnado ou Sexo verbal

De olhos fechados, ele toca levemente seu rosto no dela, aspira o perfume de pele com pele, escorrega o corpo roçando a ponta do nariz e a quentura da boca, pelo osso da mandíbula, no lóbulo da orelha direita respira forte e úmido, fazendo um tremor suave nos fios mais finos dos cabelos castanhos da pequena.

Ela estática, entregue, não por apatia, mas pelo deleite de ser possuída, ele deslizando as pontas dos dedos por sua nuca, pela quentura do pescoço, as duas mãos masculinas, de vincos e veias aparentes, divagam entre clavícula e ombros, num vai e vem que se antecipa, um nu acariciar.

Os olhos dela se deliciam, cruzam-se as vistas de fogo, de fome, de sugar o outro quase por inteiro, aquelas mãos na textura dos seios, provocante ardor de um suspiro encarnado, carregado do ar quente que rasga o espaço entre a boca dele e seu colo, seu seio desejoso da saliva, da língua morna, do suor, do porvir.

O ar que acumula os cheiros de mulher e homem, de prazer, esse ar pesado, firme e delicado, o ínterim dos corpos desejosos, faz arrepiar cada uma das vértebras reverberando às costelas ruídos arfantes, movimentos vorazes entrecortados pela flutuação de delírios cravados.

Cintura, abdome, curvas, quadris, glúteos, coxas, volúpia, joelhos suaves, panturrilhas, tornozelo e os pés, não esqueceram parte alguma, pois as íntimas partes fervilham à espera de sua vez, agarram-se num ritmo inconstante incontrolado, entregam-se ao chão, ao leito, ao despeito de satisfazer paixão carnal, desvelam encantados, espontaneidade bruta, voraz e absoluta.

Absurdamente entregues à noite, ao tempo, à vontade que nascera de um só instante, em que estiveram juntos, a sós, há exatos dez anos. Toda a vida que desenharam para si, em segredo, afastados, anestesiados da lembrança do outro, todos os traços misteriosos, cruzando-se agora, no rascunho de um acaso, num encontro abismado.

Como estrela cadente, de repente, os olhos fixos ordenam às línguas que se comuniquem de perto, suave e prolongado beijo enternecido, com força e devagar os corpos se encostam, se enroscam, os braços firmes transpassam, mantém a pele colada, por segundos afastam, querendo encarar a nudez completa, um vapor denso se desfaz no reenlace, no sublimar dessa primeira, segunda vez.

Ambos querendo que a luz nunca mais apareça, enxergando no escuro claro dos quartos de fazer amor, sentindo suas línguas quentes enquanto se permitem voar, mãos fortes e brandas, fortes e brandas ao mesmo tempo, servil movimento do aflorar inconsciente de querer para sempre viver um sob o outro, sobre o outro, ao lado, colado, encarnado.

Os pássaros ao amanhecer, embalam os sonhos diurnos, inundados por carícias de um desassossego tranquilo, os sons do despontar do sol acalentam dois corações quiçá apaixonados, tão plenos agora, pelo desnudar dos corpos, das sensações, dos miúdos recantos de alegria, nessa noite, escancarados.


free dancing couple, about 1930 by gerhard riebicke
image © bodo niemann
courtesy of the stadtmuseum

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