Um vento frio me toma, num arrepio espinhal, de repente uma frieza invade o pensar, limita o sentir e tem vontade de mandar à merd qualquer sentimentalismo que me passe. Desejo questionar, constranger, agulhar, violar. Quem sabe não me falte um pouco da rudez, da mais agressiva, flamejante e ignorante brutalidade?
Poetiza dos esgotos, dos mendigos, do azar e da dor, poderia ser assim, de advento de horror, de sangue e de torpor. Interrogo ao meu pesar, que intento ou solfejar transporta a mim o seu olhar? O seu, o dele, o dela, os olhares que me vêem, que vem e vão sobre os modos que me compõem.
Tantas vezes resvalo pelo instante, entretanto, em contraponto, dilato a contento, numerosos préstimos, do todo e do nada, do absurdo desenterro suaves sorrisos perfumados, cor-de-rosaniz-estrelados,azul-celeste-ervadocicados,laranjapimentados, verdesmeraldaromatizados...
Assim, sempre, ao pôr do sol, novos desejos se incitam sob o céu, me vestem de mantos arcoirizados, prazeres almejados, deleite agonizado, ponderar suave e prolongado, encantamento demorado, devagar acariciado, sons maviosos, ternos, sedosos, brandas carícias, instigantes vozes, cativantes flertes...sinais do comprazer, insinuante vontade de satisfazer, olhar nos olhos até novo dia nascer.
Da primeira vez me deliciei, sem ver dia nem noite, só no imaginar o iminente, beijos e delírios de paixão nascente. Na segunda, me abandonei, ao ver a lua gorda-cheia no alto de mim, o insistente se fez emergir, intensidades no possuir e no flagelar. À terceira declarei primazia, por notável elegância particular, doce-veneno, dias longínquos de um amor sereno.
O re-segundo (que foi quarto) ganhou muito privilégio, o que de maturidade não coube no tempo do que antecedeu, trouxe pr'aqui todo o gozo de ver dia nascer e se ir, de acordar e dormir, de brigar, dançar, sonhar, construir, de aprender e compartir.
Entre um e outro, Entretantos, também no não intervalo, confesso. Tantos encontros desencontrados, em dias soltos, momento errado, entre fatos, entre atos, entre tatos, noites afora, adentro, ao relento, ao bel divertimento. O quinto, fez que talvez, mas não deixei acontecer, mandei às favas com toda delicadeza possuível, e pude vir viver o cuidado de si, em mim, o cuidado de mim. Lustrar minhas asas e regar minhas flores.
Em poucas linhas, vim dizendo do lascivo ao brando, discorrendo sobre dor e encanto, me expondo do horror ao pranto, e apercebendo o que me trouxe àqui. Entender? Jamais, ainda sou do vivenciar, do evidenciar, do fluir. Reviver? Talvez, já que memória não me falta e me faz agrado trazer à tona satisfação de qualquer lugar decorrido, de cheiro, de gosto de momento vivido, moldável pelo imaginário vívido e latente que há.
O poder que prende-me ao romance, do despontar da lua, ao momento em que a noite se esvai, vem de um não sei que desproporcionado, desatino de viver, vem dos reflexos de olhares arredios-dissolutos-instigantes-instintivos, de palavras provocantes, declarações absurdamente extravagantes, fatos e relatos de textura insinuante.
Sabe, caro leitor, sou tão eu, que às vezes me espanto comigo! Já ouvi, incrédula, que me pensam ser atuante nos modos, e penso sobre o que me passa, aquele que me leu assim. Tantos modos, tolos medos, roupagens e segredos, eu os utilizo no palco e no texto, ainda assim, com cautela extrema, que sempre dou um jeito de ser nua, crua, pele e alma, em qualquer fazer, e, contra as aflições alheias, nada posso, apenas manifesto.
Na veracidade intensa do expressar, continuarei galgando as desavenças e impedimentos. Ao findar dessa novela, dou bom dia à solidão, me sinto um ser do realismo fantástico, ou o próprio, do qual muitos duvidam a veracidade, quiça, por medo de viver!
Para o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quase quinto e todos os entretantos...especialmente, para o 'porvir'.
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